sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Em cenário de crise, paleterias brilham e fidelizam consumidores em Belém

Por George Miranda

Foto: George Miranda / Os Apocalípticos
Finalmente chega o momento da saída em uma escola privada na Avenida Brás de Aguiar, centro de Belém. É hora do almoço e o sol de outubro não dá trégua um só instante. Em poucos minutos, estudantes com idade entre 15 e 18 anos descem em direção aos novos pontos de encontro do quarteirão: as paleterias mexicanas.

Os jovens conversam, se refrescam, experimentam um ou mais sabores a cada visita e prometem voltar no dia seguinte. “É impossível não ficar viciado nessas paletas. Além de deliciosas, o clima de Belém favorece que a gente necessite delas todos os dias”, afirma o estudante Lucas Costa, de 17 anos.

As paleterias vieram mesmo com força e estão aquecendo a produção de gelados no Estado. Em uma simples caminhada pelas ruas mais movimentadas da capital paraense, é possível constatar que a abertura de novos negócios no ramo de paleterias está crescendo rapidamente em vários pontos de grande movimentação da cidade, como shoppings, supermercados, terminal rodoviário, hidroviário e aeroporto. 

Apesar de o atual cenário ser comemorativo, o setor ainda está em processo de organização e, por enquanto, não possui um sindicato que reúna os empresários do ramo, mas os números individuais são impressionantes e contrariam o cenário de demissões em massa e fechamento de empresas e postos de trabalho que o Brasil tem vivido do início do ano pra cá.

Na crise, um exemplo
De acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o Pará foi o segundo Estado da Região Norte do Brasil que mais fechou postos de emprego formal de janeiro a agosto deste ano, perdendo apenas para o Amazonas. “Foram feitas 238.777 admissões e 246.946 desligamentos. Ou seja, o Pará teve um saldo negativo de 8.169 postos de trabalhos”, afirma Roberto Sena, coordenador técnico do Dieese/PA. 

Embora o Brasil esteja vivendo um momento de instabilidade econômica, alguns empreendimentos resolveram arriscar e inovar durante a tão falada crise e estão alcançando resultados consideráveis.


Esta paleteria, inaugurada em março deste ano na Travessa Quintino Bocaiúva, em Belém, é um exemplo do destaque da produção de gelados no Estado. Com pouco mais de seis meses de atividades, o negócio possui números animadores. São sete franquiados, uma loja, 40 mil paletas vendidas mensalmente, 14 funcionários diretos e mais de 20 indiretos.

“Em um momento em que a economia brasileira despenca, ter um negócio crescendo é muito satisfatório. Quando comecei, há seis meses e alguns dias, vendia três mil unidades. Hoje são mais de 40 mil por mês”, comemora Diana Benoliel, empresária e fundadora da paleteria.

A ideia de trazer a novidade para Belém surgiu em outubro de 2014, quando Diana viajou para São Paulo e constatou o enorme sucesso que as paleterias estavam fazendo na região sudeste do Brasil. Ela tentou parceria com uma marca bastante conhecida, mas o valor para adquirir a franquia custava cem mil reais, fora os impostos e a própria logística de transporte da mercadoria, que encarecia ainda mais o produto a ser vendido aos clientes paraenses.

Diante desse contexto, a alternativa encontrada pela empresária foi criar a própria marca de paleteria, com fábrica e sabores próprios. Cada paleta custa entre 7 e 10 reais e Diana explica o motivo desse valor: “As paletas são feitas com ingredientes selecionados, naturais, diferente do picolé, que é feito com aromatizante artificial e conservantes que fazem mal à saúde”. Apesar do preço, “as pessoas experimentam e se tornam clientes fiéis”, comemora.   


Paleta?! É de comer?
Muito tradicionais no México, as paletas chegaram ao Brasil em 2011 e se popularizam no Pará no início deste ano. “Os mexicanos não têm o costume de tomar sorvete. Eles tomam picolé, mas o deles têm o dobro do tamanho do nosso e é mais quadradão. Aqui, com o espírito inovador do brasileiro, as paletas foram adaptadas e ganharam recheio e até mais de um sabor”, explica o historiador Caio Carneiro.

Em julho, no auge do verão amazônico, elas viraram o mais badalado dos refrescantes. Mas será que as pessoas sabem o que é uma paleta? “É um picolé mais gostoso e mais caro”, aposta cheia de convicção a autônoma Edna Monteiro, de 37 anos, que responde se deliciando com uma paleta de bacuri com brigadeiro. E ela não deixa de estar certa, mas as diferenças não param por aí, não. A paleta tem cerca de 120 gramas, quase o dobro do tamanho de um picolé tradicional, além de possuir vários tipos de recheios que ressaltam ainda mais o sabor escolhido.

No Pará, a iguaria ganhou os sabores da terra, como o açaí, o cupuaçu e o bacuri, que são as que fazem mais sucesso. Mas também há sabores diferentes, exóticos. A paleta de churros, feita de leite condensado e canela, é um deles. Outro sabor alternativo é a paleta detox, feita de abacaxi, couve e limão e que é destinada aos consumidores que querem se refrescar, mas não abrem mão de manter a dieta e o corpo em forma. Também há paletas nas versões light e diet. Ou seja, tem paletas para todos os gostos.

Já deu pra perceber que as paleterias estão aproveitando o cenário de crise econômica para brilhar e fidelizar público consumidor em Belém, não é? Quando será sua vez de se deliciar com esse espetáculo? A economia e as indústrias paraenses agradecem. Seu paladar também!


Foto: George Miranda / Os Apocalípticos