Foto: George Miranda / Os Apocalípticos |
Finalmente chega o momento da saída em uma escola privada na Avenida
Brás de Aguiar, centro de Belém. É hora do almoço e o sol de outubro não dá
trégua um só instante. Em poucos minutos, estudantes com idade entre 15 e 18
anos descem em direção aos novos pontos de encontro do quarteirão: as
paleterias mexicanas.
Os jovens conversam, se refrescam, experimentam um
ou mais sabores a cada visita e prometem voltar no dia seguinte. “É impossível
não ficar viciado nessas paletas. Além de deliciosas, o clima de Belém favorece
que a gente necessite delas todos os dias”, afirma o estudante Lucas Costa, de
17 anos.
As paleterias vieram mesmo com força e estão
aquecendo a produção de gelados no Estado. Em uma simples caminhada pelas ruas
mais movimentadas da capital paraense, é possível constatar que a abertura de
novos negócios no ramo de paleterias está crescendo rapidamente em vários
pontos de grande movimentação da cidade, como shoppings, supermercados,
terminal rodoviário, hidroviário e aeroporto.
Apesar de o atual cenário ser comemorativo, o setor ainda está em processo de organização e, por enquanto, não possui um sindicato que reúna os empresários do ramo, mas os números individuais são impressionantes e contrariam o cenário de demissões em massa e fechamento de empresas e postos de trabalho que o Brasil tem vivido do início do ano pra cá.
Apesar de o atual cenário ser comemorativo, o setor ainda está em processo de organização e, por enquanto, não possui um sindicato que reúna os empresários do ramo, mas os números individuais são impressionantes e contrariam o cenário de demissões em massa e fechamento de empresas e postos de trabalho que o Brasil tem vivido do início do ano pra cá.
Na
crise, um exemplo
De acordo com dados do Departamento Intersindical de
Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o Pará foi o segundo
Estado da Região Norte do Brasil que mais fechou postos de emprego formal de
janeiro a agosto deste ano, perdendo apenas para o Amazonas. “Foram feitas
238.777 admissões e 246.946 desligamentos. Ou seja, o Pará teve um saldo
negativo de 8.169 postos de trabalhos”, afirma Roberto Sena, coordenador
técnico do Dieese/PA.
Embora o Brasil esteja vivendo um momento de
instabilidade econômica, alguns empreendimentos resolveram arriscar e inovar
durante a tão falada crise e estão alcançando resultados consideráveis.
Esta paleteria, inaugurada em março deste ano na Travessa Quintino Bocaiúva, em Belém, é um
exemplo do destaque da produção de gelados no Estado. Com pouco mais de seis
meses de atividades, o negócio possui números animadores. São sete franquiados,
uma loja, 40 mil paletas vendidas mensalmente, 14 funcionários diretos e mais
de 20 indiretos.
“Em um momento em que a economia brasileira
despenca, ter um negócio crescendo é muito satisfatório. Quando comecei, há
seis meses e alguns dias, vendia três mil unidades. Hoje são mais de 40 mil por
mês”, comemora Diana Benoliel, empresária e fundadora da paleteria.
A ideia de trazer a novidade para Belém surgiu em
outubro de 2014, quando Diana viajou para São Paulo e constatou o enorme
sucesso que as paleterias estavam fazendo na região sudeste do Brasil. Ela
tentou parceria com uma marca bastante conhecida, mas o valor para adquirir a
franquia custava cem mil reais, fora os impostos e a própria logística de
transporte da mercadoria, que encarecia ainda mais o produto a ser vendido aos
clientes paraenses.
Diante desse contexto, a alternativa encontrada
pela empresária foi criar a própria marca de paleteria, com fábrica e sabores
próprios. Cada paleta custa entre 7 e 10 reais e Diana explica o motivo desse
valor: “As paletas são feitas com ingredientes selecionados, naturais,
diferente do picolé, que é feito com aromatizante artificial e conservantes que
fazem mal à saúde”. Apesar do preço, “as pessoas experimentam e se tornam
clientes fiéis”, comemora.
Paleta?! É de comer?
Muito tradicionais no México, as paletas chegaram ao Brasil em 2011 e se
popularizam no Pará no início deste ano. “Os mexicanos não têm o costume de
tomar sorvete. Eles tomam picolé, mas o deles têm o dobro do tamanho do nosso e
é mais quadradão. Aqui, com o espírito inovador do brasileiro, as paletas foram
adaptadas e ganharam recheio e até mais de um sabor”, explica o historiador
Caio Carneiro.
Em julho, no auge do verão amazônico, elas viraram
o mais badalado dos refrescantes. Mas será que as pessoas sabem o que é uma
paleta? “É um picolé mais gostoso e mais caro”, aposta cheia de convicção a
autônoma Edna Monteiro, de 37 anos, que responde se deliciando com uma paleta
de bacuri com brigadeiro. E ela não deixa de estar certa, mas as diferenças não
param por aí, não. A paleta tem cerca de 120 gramas, quase o dobro do tamanho
de um picolé tradicional, além de possuir vários tipos de recheios que
ressaltam ainda mais o sabor escolhido.
No Pará, a iguaria ganhou os sabores da terra, como
o açaí, o cupuaçu e o bacuri, que são as que fazem mais sucesso. Mas também há
sabores diferentes, exóticos. A paleta de churros, feita de leite condensado e
canela, é um deles. Outro sabor alternativo é a paleta detox, feita de abacaxi,
couve e limão e que é destinada aos consumidores que querem se refrescar, mas
não abrem mão de manter a dieta e o corpo em forma. Também há paletas nas
versões light e diet. Ou seja, tem paletas para todos os gostos.
Já deu pra perceber que as paleterias estão
aproveitando o cenário de crise econômica para brilhar e fidelizar público consumidor em Belém, não é? Quando será sua vez
de se deliciar com esse espetáculo? A economia e as indústrias paraenses
agradecem. Seu paladar também!
Foto: George Miranda / Os Apocalípticos |
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