A
água potável é vital para todo ser vivo e está presente na manutenção dos
ecossistemas, no cotidiano familiar e nos setores econômicos. Apesar de ser um
bem fundamental para a manutenção da existência humana na terra, o mundo vive
uma crise hídrica e, desde a década de 70, a Organização das Nações Unidas (ONU)
se reúne para discutir a preservação desse recurso primordial.
Em
1977, ocorreu a Conferência da ONU para a Água e, em 8 de janeiro do mesmo ano,
foi criada a Lei número 9.433, mais conhecida como “Lei das Águas”, que
instituiu a política brasileira de recursos hídricos. Esta lei implica
diretamente nos setores que mais consomem água no país.
A
indústria, que é segunda no ranking dos setores que mais utilizam água, consome
22% do líquido precioso em sua produção (só perde para a agricultura), vem
tentando mudar esse cenário por meio do investimento em mecanismos de
reutilização de água. Com isso, o setor contribui para a manutenção desse
recurso na terra e ainda otimiza os gastos de produção, que, por consequência,
chega mais barato ao consumidor.
No
Pará, algumas empresas despontam como exemplo positivo de reutilização de água
em suas produções. Uma delas é a Imerys, que beneficia o caulim em Barcarena,
nordeste do estado. Desde 2014, a mineradora faz o reuso direto da água da
chuva. O reaproveitamento começou com a coleta nas bacias de contenção de
rejeitos desativadas, que têm um limite para receber conteúdo. Acima disso, há um
metro de borda livre que acumulava água, excedendo seu limite e gerando a
necessidade de repassar para outras bacias.
Paulo Wanderley, gerente de Mineroduto da Imerys |
Com
a necessidade de baixar o nível da bacia, devido ao acúmulo de água do inverno
amazônico, os funcionários colocaram uma manta (geotérmica) nesta borda livre,
captando a água e bombeando para a Estação de Tratamento de Água (ETA) da
Imerys. “Quando você deixa de captar água do subsolo, você economiza energia,
pois desliga uma máquina com potência elétrica alta, deixa de pagar a taxa de
recursos hídricos, diminui o uso dos insumos químicos na água de poços
profundos, que antes captavam 120m3 por hora. Assim, você ajuda o meio
ambiente, economizando 10% a 15% de água”, disse Paulo Wanderley, gerente de
Mineroduto e Sistema de Rejeitos da Imerys.
Além
da coleta nas bacias, os funcionários ainda instalaram um sistema de coleta de
água da chuva nas calhas dos galpões da empresa. Esse sistema também é interligado
por tubos e injetam a água captada na Estação de Tratamento de Água. Toda água
coletada passa pelo tratamento da ETA e é redistribuída no processo industrial,
sendo utilizada na lavagem de peneiras, pisos e do próprio caulim.
Jorge Almeida, funcionário responsável pela instalação do projeto de reutilização de água na Ymerys |
O
projeto de reutilização de água foi bem aceito pelos colaboradores. A ideia agora
é expandi-lo para outras bacias. “Os colaboradores que participam diretamente
desse processo de reutilização são bem conscientes e sabem dos benefícios da
captação de água. Ficam mais motivados no trabalho, porque sabem que é uma
atividade de fundamental importância para a empresa e para o meio ambiente”, afirma
Jorge Almeida, funcionário responsável por instalar o projeto.
De
acordo com a engenheira florestal Kênia Santos, o reaproveitamento de água
apresenta resultados muito positivos. “As empresas que desenvolvem tecnologia
para reaproveitamento de qualquer tipo de resíduo de produção ajudam na
sustentabilidade do planeta. As que reaproveitam água, além de obterem
vantagens econômicas (diminuição com custos de compra de água), deixam de
poluir o solo e cursos d'agua e, por consequência, ajudam na manutenção da
fauna e flora de regiões próximas a elas”, afirmou.
Sesi - Outra iniciativa de reutilização de água no setor industrial é
promovida pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), ligado à Federação das
Indústrias do Pará (Fiepa). A primeira unidade que instalou o sistema de reaproveitamento
de água foi o Sesi Indústria Saudável, em maio 2013.
Nesse
sistema, toda água captada da chuva é armazenada em cisterna e depois bombeada
para o reservatório suspenso (caixa d`água), de onde é distribuída por canalização
para o uso em limpeza e caixas de descargas. “Acreditamos que o mais importante
é a responsabilidade ambiental do uso racional dos recursos naturais”, comentou
Hildo Picanço, Gerente Executivo de Engenharia do Sesi no Pará.
Na
escola Sesi Ananindeua e no Teatro do Sesi, a equipe de engenharia da entidade aprimorou
ainda mais o projeto, captando, além da água da chuva, os drenos das maquinas
de ar condicionado, por meio da instalação de filtros no início do sistema. Desta
forma, nem a água despejada por esses aparelhos é desperdiçada. O interesse do
Sesi é de, na medida em que forem reformando ou construindo novas unidades, dar
continuidade aos projetos de sustentabilidade ambiental e boa prática no uso dos
recursos naturais, sobretudo da água.
“O Pará está localizado em uma região em que
os índices de precipitação anuais são elevados. A capacidade de reaproveitamento
de água de chuva, por exemplo, possibilita a diminuição de escalas
significativas no consumo de água para finalidades simplórias, como descarga,
lavar calçadas, regar plantas. Por conta disso, os sistemas de reaproveitamento
de água devem ser adotados de maneira mais ampla, até mesmo dentro das
residências”, afirmou Kênia Santos.
A
engenheira também aponta outra alternativa para as empresas interessadas na
preservação da água no planeta. “Promover o tratamento químico ou biológico dos
resíduos líquidos dos processos produtivos seria outra boa alternativa para a
redução do consumo de água potável, mas é um processo caro demais. Nesse cenário,
a reutilização de água da chuva já desponta como uma ação de fundamental
importância e que precisa ser melhor desenvolvida”, finaliza.
Produção e reportagem: Emanuele Corrêa
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