segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Círio de Nazaré: fé e tradição


Foto de Sérgio Ferreira.
Domingo, trânsito alterado, principais vias fechadas, uma cidade toda iluminada e com um perfume característico. Dinâmica bastante conhecida pelos paraenses no período mais esperado do ano: O Círio de Nazaré, que reuniu aproximadamente 2 milhões de pessoas.
Na frente da Igreja da Sé, os peregrinos estavam à espera da procissão, que segundo a Diretoria da Festa, é a maior reunião católica do mundo. Após a missa e a bênção final, o arcebispo metropolitano Dom Alberto Taveira conduziu a imagem peregrina até a berlinda, dando início à procissão que percorreu 3,6 km pelas ruas da cidade, recebendo inúmeras homenagens até chegar à Basílica Santuário.
Faixas, fogos de artifício e chuva de papel picado foram algumas das homenagens a Nossa Senhora de Nazaré. E em um dos momentos mais marcantes, uma chuva de pétalas de rosas brancas e amarelas caía sobre a berlinda e os promesseiros, que seguiam em procissão. Uma cena incrível.
A berlinda que levava a imagem, parava em alguns pontos para receber mais homenagens. Estavam lá, personalidades do Pará e de outros estados como Dira Paes, Elba Ramalho, Padre Zezinho e Padre Fábio de Melo. A cantora Fafá de Belém marcou presença e emocionou com sua voz, cantando “Eu sou de lá”. O cortejo seguia com a Berlinda atrelada à corda, que era puxada pelos romeiros.
“Sou de Macapá, vim para agradecer uma graça alcançada e voltarei outras vezes a Belém para continuar agradecendo o pedido, pois nada me impede de sair do meu estado para vir ao Círio”, comentou o promesseiro Fabrício Moreira, de 34 anos, que ia na corda. E reforçou: “É muito cativante estar aqui, pessoas que nós não conhecemos, que nunca vimos, nos ajudam, todos estão aqui com único objetivo”.
Para ajudar os promesseiros da corda, os que caminhavam com peças de cera e os ajoelhados sobre os pedaços de papelão que eram postos no chão para amenizar a dor durante o percurso, a Cruz Vermelha agia, prestando-lhes socorros. “Os desmaios são frequentes. Muitas pessoas que estão aqui desde cedo e que não se alimentaram corretamente, acabam passando mal; e é o nosso dever enquanto Cruz Vermelha ajudá-las e isso para mim é muito gratificante”, relatou Gisele Duarte, 17 anos, voluntária da Cruz Vermelha.
Cidadãos comuns também colaboraram com o Círio distribuindo água: “Entrego água no Círio há dez anos. Foi por causa de uma promessa que fiz. A graça foi alcançada e eu continuei dando água até hoje. Virou tradição. Uma senhora passou ajoelhada, estava pagando uma promessa e eu entreguei água a ela. Fiquei muito emocionada”. Disse Inês Lobato Teixeira, 59 anos, engenheira.
A Defesa Civil e outros órgãos também atuaram. Ambulâncias foram colocadas nos corredores de emergência, tudo previamente planejado para o Círio caminhar bem e para os fiéis estarem seguros e amparados.
E quando a procissão se aproximava da Basílica, a corda começou a ser cortada, mostrando que a campanha “Não corte a corda” funcionou. E os participantes desta grande festa puderam levar como recordação, um pedaço da corda, elemento que foi introduzido na festividade como auxílio à procissão e hoje é um dos maiores símbolos dessa grande celebração de Fé.
A imagem de Nossa Senhora de Nazaré chegou por volta das 12h30 e foi levada pelas mãos do Arcebispo de Belém ao altar arquitetônico para dar início à Missa de encerramento da procissão.

O Círio e sua história:
O primeiro Círio foi realizado em 8 de setembro de 1793 e não em outubro como estamos acostumados. Acontecia à tarde, mas algumas mudanças no decorrer do tempo foram feitas, dando-lhe as características e o período conhecidos hoje.
O presidente da Província do Pará, Francisco de Sousa Coutinho, decidiu, ainda em 1791, que no segundo semestre de 1793 aconteceria uma feira de produtos agrícolas, no mesmo período em que os devotos fariam homenagens a Virgem de Nazaré.
Em junho de 1793, o presidente adoeceu e teria prometido que se fosse curado, faria uma procissão do Palácio do Governo até à ermida onde ficava a imagem da santa. Coutinho, com a saúde recuperada, cumpriu a promessa e no dia 8 de setembro do mesmo ano a procissão foi realizada, contando com a presença de 2 mil soldados e devotos.
O primeiro cortejo passou pelo mesmo percurso feito pela santa, que foi encontrada pelo caboclo Plácido, às margens do igarapé Murucutu. Conta a história, que Plácido levava a imagem para casa, mas ela insistia em voltar ao igarapé onde foi encontrada. Ali, então, foi construída uma capela, hoje Basílica Santuário.
Ao longo dos anos, houve adaptações. Uma delas ocorreu em 1853. Devido a uma chuva torrencial, a procissão – que ocorria à tarde – passou a ser realizada pela manhã. E a partir do ano de 1901, por determinação do bispo Dom Francisco do Rêgo Maia, a procissão passou a ser realizada sempre no segundo domingo de outubro.
A tradição de ir e vir da imagem de Nossa Senhora de Nazaré foi mantida até hoje. Durante o sábado de Trasladação, a imagem peregrina vai do colégio Gentil até a Catedral Metropolitana de Belém e retorna de lá para a Basílica Santuário no domingo do Círio.

Texto de Emanuele Corrêa e Hojo Rodrigues.

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