quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Farinha do mesmo saco

                                                  FotoLeônidas Dias/Newton Corrêa 
No poder, um liberal é um conservador e um conservador é um liberal. Eis o fantástico elemento homogeneizador de ideologias: essa promiscuidade profana que é a Política. Lá em cima, mandando e desmandando, são todos rigorosamente iguais. Mesmos ideais, mesmas atitudes, até as mesmas barbas.
Direita e esquerda – e coluna do meio, diria certo governante – só se distinguem fora desses círculos. Criticando o Governo e lutando para colocar ali um dos seus, prometendo grandes ações como “nunca antes neste país”. E aquela do peixe que sempre cai na mesma armação da minhoca no anzol continua sendo a anedota que melhor ilustra o eleitorado brasileiro.
Afinal, são sempre as mesmas promessas, as mesmas negativas, as mesmas trocas de acusações, desabafos e desaforos. Basta seguir o mesmo script que já levou tantas pessoas ao poder. O marketchim é quase desnecessário. E continuamos votando, sempre. Chega-se a perguntar quais discernimentos são adotados pelo eleitor para preferir um ao outro? Porte físico e/ou estético? Grau de instrução? Experiência profissional (e política é a profissão das mais duradouras neste país)? Alguma “coisa” mais parcial e menos honesta, como juras de cargo? Cestas básicas?
— Vou criar 10 milhões de empregos!
Ah, sim!
— Vou promover as reformas tributárias, política e agrária!
Sim, sim! O adversário sugeriu o mesmíssimo.
— Irei enxugar essa carga tributária que arrasa os microempresários e empenhar-me-ei para aumentar o salário-mínimo pra R$ 1.000,00!
É impressionante a sensibilidade de um político quanto aos problemas sociais que, estranhamente, desaparecem quando ele chega lá. É um roteiro passado de mão em mão, há gerações, seguido na íntegra por candidatos no primeiro mandato, na reeleição, em outro mandato qualquer, por aliados e adversários, dos dois poderes que importunam o cidadão com a imposição do sufrágio. Prometer o que não se pode cumprir e jurar o máximo de fidelidade ao eleitorado, na maior cara-de-pau que se puder fazer. Um pouco de carisma, talvez, também ajuda. Contudo não há muito segredo.
Muitos de nós somos a “massa”, o rebanhão perdido que não sabe para onde ir. Nossas escolhas parecem basear-se em decisões parecidas a “com qual pé me levanto da cama hoje?”. Não há como saber quem é o mentiroso, a não ser, é claro, quando um dos candidatos estiver concorrendo à reeleição. Ali, encenando e pedindo votos sob as luzes da ribalta, o político pode apresentar a melhor das boas intenções em estado bruto. Todos os seus juramentos, por mais absurdos que possam parecer, são plausíveis - quase acreditáveis e conscientes – desde que não vença a competição e não assuma o cargo pretendido, pois, daí, é outra história.
Mas o voto em branco, antigamente um mero trocadilho, “Não vote em branco, vote em Grande Otelo!”, hoje está na moda. E a abstenção está com tudo! Ou, talvez, a solução seja adotar a proposta do mestre Millôr Fernandes e incluir nas urnas eletrônicas uma quarta tecla (ou no lugar da primeira) “Vá à m...” que capture a expressão de quem queira protestar, evitando-se, assim, que se elejam inoportunos e oportunistas.
As campanhas de “voto consciente” promovidas pelo próprio Governo às vésperas das eleições são pretensiosas. Desejam conscientizar-nos de que sejamos criteriosos ao votar, sabendo, porém, que não existe critério consciente algum para isso – o prático “unidunitê” não conta. No fim, colocamos mais um safado no poder e o Governo ainda se sente na ‘ética e moral’ de nos dizer: “eu avisei!”.
É bom pelo menos avaliar o passado de cada candidato, lembrando que estamos em ano eleitoral. Os antecedentes criminais e políticos, o que fizeram se foram traiçoeiros, principalmente, com os eleitores. Por fim, conhecer bem o candidato antes de votar. E, de preferência, repugnar a reeleição. Sou brasileiro e desisto sempre - do político eleito, claro. No poder, seu candidato será rigorosamente igual ao antecedente. Mas, pelo menos, provamos o gostinho de tirar o emprego de mais um calhorda.
Texto de Tarcízio Macêdo

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