domingo, 24 de fevereiro de 2013

Assaltos ameaçam a recuperação de vítimas de escalpelamento em Belém

“A todos que conhecem o meu trabalho com as vítimas do escalpelamento, PEÇO SOCOOOORROO!”. Assim começava o apelo de Cristina Santos, presidente da ONG dos Ribeirinhos Vítimas de Acidente de Motor (Orvam), em seu perfil no Facebook. Cristina expôs a falta de segurança que ameaça o trabalho da ONG e a indiferença do governo em relação ao problema. A súplica na mídia social chamou a nossa atenção e resolvemos conhecer mais sobre a situação da Organização.
Com o apoio da prefeitura de Belém e do Programa do Gugu, a Orvam foi fundada em janeiro de 2011 com o objetivo de ajudar pessoas que sofreram escalpelamento (acidente em que as vítimas têm os cabelos puxados pelos eixos descobertos de pequenas embarcações comuns na região amazônica). “A nossa missão é trabalhar com a autoestima, com a questão do preconceito e principalmente com a promoção ao mercado de trabalho”, explica Cristina. Para desenvolver esse trabalho, a ONG conta com serviços de assistentes sociais, psicólogos e uma oficina de perucas que recebe doações de cabelo de várias partes do mundo.
Ainda segundo Cristina, 76 meninas estão cadastradas e três delas já foram inseridas no mercado de trabalho. “As portas das empresas não estão fechadas, mas depende muito do trabalho nosso”, diz. Porém, os assaltos dificultam os trabalhos da ONG.
Em maio de 2011 foram levados equipamentos e alguns eletrodomésticos do local. Em janeiro de 2013, a cozinha foi o alvo e já no mês seguinte ocorreram novas tentativas de invasão. “Precisamos desse espaço com segurança. As meninas precisam se sentir seguras, senão elas começam a não vir. Também fica difícil pra mim e pra equipe que é totalmente voluntária. As pessoas já vêm com a boa vontade de querer ajudar, mas complica com essa pressão. A gente não quer muita coisa, só queremos segurança, do resto nós vamos atrás”, explica a presidente da Orvam, preocupada com a situação de quem frequenta o espaço.
A Organização já solicitou ajuda do governo quanto a esses problemas, mas “hoje os governantes estão com o coração endurecido para as causas sociais”, diz Cristina. Apesar de rondas policiais terem sido feitas em torno da ONG depois do segundo assalto, o poder público ainda não consegue resolver o problema de insegurança no local.
Além da insegurança, a Orvam não conta com apoio financeiro de ninguém e, para agravar a situação, existem empresas que se aproveitam da reputação da ONG. Regina Formigosa, que foi vítima de escalpelamento e hoje trabalha na confecção de perucas, afirma: “Tem salão de beleza que usa o nome da Orvam pra arrecadar cabelo, mas nós não recebemos esse material. Se alguém quiser doar cabelo, deve doar diretamente na Orvam. Não temos parceria com nenhum salão”.
Confira no vídeo abaixo o depoimento de algumas pessoas que trabalham com as vítimas de acidente de motor na Orvam.



Quer colaborar com a Orvam? Visite o site da Organização: http://orvam.org.br/site/quero-ser-orvoluntario/



Texto: Jobson Murilo
Revisão: Erica Marques
Edição: Juliana Theodoro

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Pará no ritmo do Carnaval

Desfile leva centenas de pessoas à Aldeia Cabana/Foto Hojo Rodrigues

O Carnaval chegou e o Pará, é claro, não ficou de fora. Para quem pensa que o Carnaval de Belém só aconteceu na nova Orla da cidade, nas ruas e avenidas com os tradicionais bloquinhos dos amigos e na Aldeia Amazônica, enganou-se. O Paraense respira Carnaval, que inspira as festas que acontecem por aqui e até a dinâmica dos Shoppings da Cidade.
Um shopping localizado na Doca, de um jeito irreverente, levou o Carnaval para dentro do seu estabelecimento. Quem passou por lá por esse período deve ter se deparado com banda, palhaços e “brincantes” que circulavam pelo Shopping ao longo do dia.
O Pará também foi lembrado no enredo da Escola de Samba do Rio de Janeiro, Imperatriz Leopoldinense, com o samba: “Pará, o muiraquitã do Brasil”. E desde sexta-feira, 8, o bairro da Pedreira abriu alas para os Desfiles Oficiais das Agremiações Carnavalescas de Belém. Até o domingo, 10, vinte e três escolas de samba passaram pela Aldeia Amazônica.
Na primeira noite, desfilaram as escolas de samba classificadas no 2º grupo. A Associação Carnavalesca "Xodó da Nega", do bairro da Cremação, foi a primeira a entrar na avenida, levando o enredo: “Então é Natal” e contando com cerca de 1.200 brincantes. Em meio há 40 baianas, estava dona Elzarina Cardias, 66 anos, que já desfila há quatro anos e disse se sentir muito emocionada: "É uma emoção única, mas que se repete a cada ano", disse ela, que também desfila em outra escola de samba.
A escola "Embaixadores Azulinos" foi a segunda a se apresentar. Com o enredo "De canto encanto a festa da fé, é o Círio de Nazaré", a escola representou a história da devoção à padroeira dos paraenses, assim como as romarias, os símbolos do Círio e as manifestações profanas da festividade.
Desfilaram na mesma noite as escolas de samba Mocidade Unida do Benguí, União Montenegrense, Coração Jurunense e Habitat do Boto; encerrando o desfile com a Escola de Samba da Matinha.
No sábado, 9, segunda noite do desfile um grande número de pessoas foi atraído para o sambódromo. As escolas de samba do 1º grupo desfilaram. A primeira escola a invadir a avenida foi o Grêmio Recreativo e Escola de Samba “Rosa da Terra Firme". Fundada em 2008, a agremiação vem ganhando espaço nos desfiles e apresentou, este ano, o enredo "Na Academia Paraense do Samba, Osvaldo Garcia é imortal e brilha com a Rosa nesse Carnaval".
Logo depois foi a vez da Escola de Samba "Piratas da Batucada", seguida pela Embaixada do “Império Pedreirense”.
"Estamos aguardando o Rancho", gritou um grupo de amigos que veio do bairro do Jurunas para ver o Grêmio Recreativo “Rancho Não Posso Me Amofinar” passar. O Rancho que foi a escola mais aguardada, fez o público vibrar com sua entrada. A agremiação jurunense trouxe o enredo "Sangue de minh'alma" e o primeiro carro alegórico, "Templo dos Sacrifícios", chamou bastante a atenção do público, representando o ritual de oferenda aos deuses.
Em seguida foi a vez da Agremiação "Bole-Bole" desfilar na avenida. Apresentando o carro abre-alas “Um mundo de fascinação”, a escola homenageou Mestre Lucindo e sua terra natala cidade de Marapanim. Segundo o professor de dança Rodrigo Repilla, 20, a comissão de frente veio representando "os plânctons luminosos e a espuma do mar que brilha em noites de lua cheia", um fenômeno que ocorre a beira-mar.
A última escola a se apresentar na avenida foi a “Deixa Falar”, por volta de 3h30 da manhã, encerrando o segundo dia de desfile.
No domingo, 10, mesmo com o tempo fechado na maior parte da noite, foi a vez das escolas de samba do 3º grupo e a primeira a entrar no sambódromo foi a "Caprichosos da Cidade Nova", seguida pela Associação Carnavalesca "Cacareco".
O Grêmio Carnavalesco "Parangolé do Samba" veio representando a política paraense. O deputado federal Arnaldo Jordy (PPS-Pa) foi homenageado pela escola e desfilou sobre um carro alegórico.
A agremiação “Alegria Alegria” veio representando os cem anos do Cine Olympia. Segundo Mestre Santos, 56 anos, a escola teve a honra de mostrar ao público a história do cinema paraense, já que a “Alegria Alegria” é cultura. "Vamos mostrar que o Cine Olympia ainda está de pé e a gente veio para ganhar", vibrou. A comissão de frente estava caracterizada com vestimentas típicas do período colonial. "São as damas e os cavalheiros da época da inauguração do cine Olympia. A nossa coreografia é baseada na dança da época. Vamos homenagear o Cine Olympia como se fosse a sua inauguração”, disse Wendel Pantoja, 34 anos, professor de dança.
Os blocos carnavalescos se apresentaram somente na segunda-feira, 11, último dia de desfile. Doze blocos desfilaram no bairro do samba e do amor. Entre eles estavam “Mocidade Unida do Umarizal”, “Estrela Reluzente”, “Sapo Muiraquitã” e “Império Jurunense”, encerrando com o bloco “Estação Terceira”. O movimento foi fraco durante a maior parte da noite.
Para alguns comerciantes, o último dia não foi bom para as vendas. “O movimento está muito fraco, mas ainda pode melhorar. Nos dias anteriores eu vendi mais”, disse João Batista Vieira, 64 anos, ambulante.
De acordo com informações da Polícia Militar, durante todos os dias dos desfiles não houve nenhum registro de violência ou furtos. Havia cerca de 350 policiais militares, durante o evento. “Até agora ainda não teve nenhuma ocorrência. Temos de esperar até o final dos desfiles para apurar os relatórios”, disse a sargento Silvana, 39 anos, da Polícia Militar.
As escolas foram avaliadas por 22 jurados nos quesitos Alegoria, Bateria, Baianas, Comissão de frente, Evolução, Enredo, Estandarte, Fantasia, Harmonia, Mestre-Sala, Porta-Bandeira, Porta-Estandarte e Samba-Enredo. A apuração do desfile será realizada na próxima quinta-feira, 14, às 9h30 da manhã. No sábado, 16, será promovida a festa de premiação.

Texto de Hojo Rodrigues e Emanuele Corrêa
Edição Juliana Theodoro

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Ato das velas: Por uma universidade mais digna

Um protesto mobilizou vários alunos do campus básico e profissional da Universidade Federal do Pará na noite de ontem, dia 5.‘’O Ato das velas’’, como  conhecido, foi organizado por alguns centros acadêmicos e tinha o objetivo de chamar a atenção do reitor para os diversos problemas enfrentados por alunos, professores e funcionários da UFPA, como assaltos e infraestrutura sucateada.
Com velas e cartazes nas mãos, os alunos saíram pelos blocos de aula incentivando os outros estudantes, que estavam nas salas, para participarem do ato. Um grupo de jovens saiu do campus básico, bloco E, e outro grupo saiu do campus profissional, bloco K. Ambos tinham como destino a reitoria da universidade.
Chegando ao prédio, os dois grupos de alunos se uniram e colaram os cartazes nas paredes e pediram, mais uma vez, que o reitor Carlos Maneschy buscasse soluções imediatas para os problemas que andam tirando a paz de muitos estudantes. ‘’É muito importante que atos como esse estejam acontecendo para alertar os demais estudantes a se somar ao movimento e para pressionar o reitor para que ele tome alguma providência’’, disse Raphael Castro, calouro de jornalismo.
No mês passado, uma aluna foi assaltada dentro do laboratório de pós-graduação de Letras por um homem que estava armado com uma faca de serra. Além dos problemas de insegurança, os alunos têm que se preocupar também com as deficiências estruturais de parte dos prédios da instituição: um ventilador de teto caiu e, por pouco, não atingiu uma graduanda. Outro incidente ocorreu na última terça-feira, 4. De acordo com informações de funcionários, parte do forro da Biblioteca Central cedeu durante a chuva da tarde.
São reclamadas melhorias sobre esses e outros incidentes na UFPA! Confira o protesto "Ato das velas" no vídeo a seguir:


  

Texto de Felipe Matheus
Revisão de Erica Marques
Edição de Emanuele Corrêa

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Castanhal recebe ilustre visita e 1080 novas moradias


Na última sexta-feira, 1º de fevereiro, a cidade de Castanhal (interior do Pará) recebeu a primeira visita presidencial de sua História. A presidenta Dilma Rousseff realizou a entrega de 1080 residências das 1412 do residencial Jardim dos Ipês (pois já tinham sido entregues 332), integrante do programa federal Minha Casa, Minha Vida.
Foto Alice Martins
O Jardim dos Ipês é um composto de 4 residenciais que, por sua vez, são divididos em apartamentos e casas. Fazem parte o Residencial Jardim dos Ipês Rosas, Parque dos Ipês Brancos, Jardim dos Ipês Roxos e Jardim dos Ipês Amarelos. Saiba os detalhes no site do Ministério das Cidades.
Os Apocalípticos foI um dos primeiros grupos da imprensa a chegar no local. Enquanto aguardávamos a chegada presidencial, aproveitamos para conversar com a população que também esperava por ela. Para quem estava lá, a oportunidade não era apenas de vê-la ao vivo, mas uma chance de ser enxergado pelo Governo e poder fazer seu pedido.Como é o caso da Cristiane Oliveira. Com 27 anos, dois filhos pequenos e um marido desempregado, a dona de casa mora “na casa dos outros” e há quase dois anos se alista no programa, mas até agora não conseguiu uma para si. Foi para a cerimônia tentar a sorte e, principalmente, entregar uma carta para a presidenta na qual explicava sua situação.
Já Maria, de 59 anos, conseguiu um apartamento no Ipê Amarelo há três meses. Demonstrou ter gostado bastante do local e estava feliz com o programa, mas na semana passada recebeu uma conta de energia de R$200, que não tem como pagar, porque vive apenas de outro programa do Governo Federal: o Bolsa Família. Como recebe R$106 por mês, o pedido que ela queria fazer na oportunidade com a presidenta Dilma era que o Bolsa Família expandisse e aumentasse o valor fornecido. A filha de Maria, de 20 anos, tem três filhos e ainda não conseguiu sua casa. Ela vive com a mãe no momento e a família tem que se locar no mesmo apartamento até conseguir outro.
Foto Alice Martins
Podia-se ver que a situação tanto de Cristiane quanto de Maria não eram raras. Em meio à multidão que compunha a platéia, seguravam uma faixa dizendo “Faltou pra mim. Pq?”. Quando a presidenta, durante a cerimônia, viu, notamos que ela conversou com o ministro das cidades, Aguinaldo Ribeiro, e ele, em seu discurso, deu a resposta: disse que percebeu a faixa e que a presidenta falou que mais casas serão distribuídas em breve no mesmo residencial, o que levantou aplausos e a esperança do povo. Mais tarde, conseguimos a informação que até 15 de fevereiro, todas as residências estarão entregues.
A expectativa da chegada da presidenta à cidade foi grande. Durante a semana inteira houve um movimento incomum em Castanhal: helicópteros sobrevoando, trânsito agitado, polícia militar em diversos pontos da cidade. No dia de sua chegada a segurança estava ainda mais reforçada e desde 9h já se escutava os castanhalenses perguntando-se sobre a vinda da presidenta. No local de seu pronunciamento, a produção preparava o ambiente conferindo microfone, luz e até mesmo o clima.
A presidenta Dilma pousou no avião presidencial às 9h50 na capital do estado, Belém. De lá, foi de helicóptero com o governador do Pará Simão Jatene para o estádio Modelo de Castanhal, de onde prosseguiu de carro até o Jardim dos Ipês. Quando chegou, não tinha quem não percebesse: a multidão aclamou a presidenta com aplausos, gritos e saudações. A presidenta não tinha como ser mais bem recebida. Dilma deu prioridade para conhecer uma das residências que seriam entregues, onde já estavam uma futura moradora com sua filha, que ficou emocionada ao conhecer os governantes.
Logo depois, iniciou-se a cerimônia. O primeiro discurso foi do prefeito de Castanhal, Paulo Titan, que demonstrou um profundo agradecimento pela visita, emocionou-se contando a História da cidade, fez pedidos de auxílio para promover segurança e saúde e reforçou sua cooligação com o governo da presidenta.
Em seguida, o ministro das cidades fez seu discurso, notou a emoção e o entusiasmo de Titan com bom humor,cumprimentou todas as autoridades presentes e falou sobre o Minha Casa, Minha Vida. Depois, foi a vez de Simão Jatene, que, comovido, contou a história de sua própria infância, vivida em Castanhal,mas, durante seu discurso, a população gritava pela ex-governadora Ana Júlia Carepa, que estava presente. Jatene não fez nenhuma nota a respeito.
A seguir, três futuras famílias de moradores subiram ao palco para pegar a chave de suas residências com o prefeito, o ministro das cidades e a presidenta. Para representar os moradores, Cleidiane, que também tinha acabado de receber sua chave, fez um discurso emocionado, chegando até a chorar de felicidade e agradecendo diversas vezes à presidenta.
Chegou então a vez do esperado discurso de Dilma. Mais uma vez, os aplausos enchiam o Jardim dos Ipês. A presidenta, quebrando protocolos, cumprimentou primeiramente Cleidiane e depois as autoridades. Ela explicou, com tom de professora, como o programa funcionava, quais seus objetivos, fez uma comparação da dificuldade de se comprar uma casa no Brasil do passado e foi além.
É claro, não poderia deixar de atentar para a questão da mulher brasileira: falou da importância das creches e seus projetos já em andamento no programa Primeira Infância Melhor. Explicou como o Minha Casa, Minha Vida favorecia a família, já que, diferente de outros contratos de moradia, quando um casal se separa, a casa fica em nome de quem ficar com o encargo dos filhos, independente de ter sido primeiramente em nome do homem ou da mulher.
Parabenizou Castanhal pelo programa e fez observações sobre a juventude da cidade – tem apenas 81 anos – e de sua população, o que a levou a falar do jovem, do programa Ciência Sem Fronteiras e do desemprego – o Brasil tem atualmente uma das menores taxas de desemprego da História mundial, 4,6% -. Por fim, alertou os moradores do Jardim dos Ipês sobre seus direitos, o que evidenciou a injustiça pela qual Maria passa:
“Ninguém, em lugar nenhum do Brasil, pode usar a casa própria para pedir qualquer coisa para o morador, porque isso é direito do morador. Ninguém, nem no governo federal, nem no governo estadual, nem no governo municipal, nem na empresa e nem em lugar nenhum, em canto nenhum, pode cobrar nada de quem tem a casa. Nada, porque este dinheiro, este dinheiro que nós usamos é o dinheiro do povo brasileiro, e, portanto, ele volta sob a forma de casa para o povo brasileiro.”

Deixou a cidade contando que já veio ao Pará para participar do Círio de Nazaré, em 2010, e prometeu tentar voltar ainda neste próximo Círio.

(Leia o discurso da presidenta Dilma na íntegra aqui)


Texto de Alice Martins Morais
Revisão: Laís Cardoso
Edição: Emanuele Corrêa.