Amazônia,
floresta, populações ribeirinhas, brega, carimbó. Esses parecem ser os temas
que norteam as pesquisas acadêmicas e profissionais no estado do Pará. Mas há
uma vertente científica pouco conhecida: a do estudo arqueológico, mais
especificamente o de resgate da arte rupestre. É este lado da Ciência local que
a exposição “Visões: arte rupestre em Monte Alegre”, realizada pelo Museu
Paraense Emílio Goeldi (MPEG), pretende mostrar.
Tudo
começou com uma equipe de quatro pessoas: um poeta, uma arqueóloga, um
aquarelista e um cineasta. Eles se uniram e viajaram às serras de Monte Alegre
- município no oeste do Pará, próximo a Santarém. Lá, depararam-se com diversos
sítios arqueológicos, inclusive com a presença da arte rupestre –
que, como sabe, são as representações de registro humano mais antigas conhecidas, pré-históricas.
Primeiro cômodo
da exposição aquarelas de
Mário Baratta ao centro.
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A
pesquisa dessa arte rupestre proporcionou uma impressão para cada uma dessas
quatro pessoas, de forma que essas visões diferenciadas precisavam ser
extravasadas. Assim, a exposição do MPEG é resultado desses diferentes pontos de vistas.
No
primeiro cômodo, vemos o trabalho do aquarelista Mário Baratta em diversos
quadros que retratam Monte Alegre. Nas paredes do mesmo lugar, têm-se
reproduções em larga escala da arte rupestre local, além de grandes banners ilustradas com as palavras de Juraci Siqueira, o poeta – suas poesias, inclusive, culminaram no livro infantil: Itaí a carinha pintada.
No
próximo ambiente da exposição, exibe-se o vídeo-documentário Imagens de Gurupatuba (duração de 15min)
do cineasta Fernando Segtowick, produzido a partir das imagens vistas nos
sítios arqueológicos.
Rocha arqueológica com gravuras da arte rupestre
encontrada em Monte Alegre.
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Já
o trabalho da arqueóloga Edithe Pereira fica exibido no último espaço, no qual
o público pode conhecer algumas peças trazidas do sítio. Exemplo delas é a
rocha da foto ao lado, na qual há inseridas gravuras da arte rupestre. Um fato
curioso é que muitas dessas rochas estavam sendo utilizadas pela
comunidade de Monte Alegre como tábuas para lavagem de roupas, o que acabou
danificando bastante as peças.
Tal
desconhecimento do valor da peça arqueológica é um dos motivos pelos quais se
criou o projeto “Arte Rupestre de Monte Alegre: Difusão e memória do patrimônio
arqueológico”, dentro do qual essa exposição está inserida.
Os efeitos no público são facilmente percebidos. Independentemente da faixa etária ou do lugar de origem, a maioria dos visitantes tem seu primeiro contato com a arte rupestre paraense devido à exposição.
Os efeitos no público são facilmente percebidos. Independentemente da faixa etária ou do lugar de origem, a maioria dos visitantes tem seu primeiro contato com a arte rupestre paraense devido à exposição.
O gaúcho de 27 anos, Jeffer, foi visitar o
museu com a namorada belenense e achou a experiência bastante positiva. Foi a
primeira vez que viu a arqueologia de Monte Alegre e, como o casal fez uma
visita rápida, espera saber mais desse lado da pesquisa posteriormente.
Os
próprios paraenses desconheciam, na maioria das vezes, o que estava sendo
exposto. Benício, de 34 anos, ficou surpreendido pela quantidade de material
arqueológico que o seu estado tem. “A gente fica feliz, até orgulhoso, de saber
que nós temos tanta cultura, tantas coisas que normalmente não é expandido para
a maioria das pessoas”, disse. Seu filho, Lucas, 13, também estava conhecendo
essa vertente científica do Pará e gostou bastante de tudo, principalmente da
arte rupestre das rochas: “achei bem interessante porque foi feita por povos
bem antigos”.
A
pedagoga Catarina, 35, já tinha ouvido falar sobre a arte rupestre, mas
desconhecia sua localização. Ela frisou a importância da exposição em relação a
essa divulgação da pesquisa arqueológica paraense, inclusive para haver maior
reconhecimento sobre o próprio sítio em terras natais: “Às vezes a gente não dá
muito valor ao que já tem”.
A
exposição também tem um planejamento de inclusão: todo o trabalho é bilíngue
(português e inglês) e há também a versão em braile para deficientes visuais e
em língua de sinais para o acesso aos deficientes auditivos.
Vídeos socioeducativos produzidos pelo próprio
Museu
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“Visões:
arte rupestre em Monte Alegre” conta também com vídeos educativos produzidos
pelo LabCom (Laboratório de Comunicação do MPEG), oficinas e outras atividades
socioeducativas. Permanece exposta até 30 de setembro, de terça a sexta, das 9h
às17h, e aos sábados, domingos e feriados, de 9h às 14h. Localiza-se no
Pavilhão de Exposição Rocinha do Museu Emílio Goeldi, na Av. Magalhães Barata,
376, em Belém. Para visitar, não se paga nenhum adicional, apenas o ingresso do
museu, R$2.
Texto e fotos: Alice Martins Morais
Revisão: Erica Marques
Edição: Arthur Medeiros
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