Todos já ouvimos falar de Harry Potter, Senhor dos Anéis, Crepúsculo e etc. Todos já lemos notícias de livros nos topos dos mais lidos do New York Times e autores que ficaram milionários. Já vimos trailers de megaproduções cinematográficas baseadas em uma série de livros. E todos nós sabemos que eles são sempre americanos, britânicos, canadenses, europeus e enfim, estrangeiros. A pergunta é: onde estão os brasileiros? Será que eles não escrevem? Ou será que não são lidos? O fato é que a Literatura Nacional Contemporânea existe sim, só que as pessoas só estão com os olhos ocupados demais no novo best-seller da vez para notá-la.
“É também uma questão cultural (...)” afirma a editora Novo Século, “Podemos observar, na música, nos filmes e seriados, uma supervalorização do que vem de fora.” E é verdade. O brasileiro sempre achou que o estrangeiro é melhor que ele. O brasileiro é o típico cara que mima o gringo, canta músicas em inglês sem saber o que significam e podem pagar uma nota por um filme hollywoodiano, mas não dão o terço do valor por um nacional. Que dirá livros? Logo ele, que nem de ler gosta.
Segundo pesquisa do Ibope Inteligência, a média de livros lidos por ano pelo brasileiro é de 1,85. Uma vergonha se comparado à média europeia de 8 livros por ano. Ocupamos a 27º colocação mundial em hábito de leitura e perdemos, inclusive, para nossa vizinha Argentina que está em 18º.
Mas calma. Não se desespere. Nem tudo são cravos. A nossa esperança é, como sempre, a juventude. Aproximadamente 50% dos leitores brasileiros são formados por jovens entre os 5 e 24 anos de vida. Nessa faixa etária, o número de leitores é sempre superior ao de não leitores, quadro que se inverte à medida que avançamos na idade. Pegue qualquer pesquisa de mercado editorial, o gênero que mais cresce em produção e em vendas é o infanto-juvenil.
Uma grande prova desse interesse da mocidade pela literatura é a jovem escritora Ana Macedo que, aos 17 anos, acaba de publicar seu primeiro livro, Lágrima de Fogo. Quando perguntada sobre o gênero que escreve, Fantasia, a garota acabou por fornecer uma explicação que pode se encaixar muito bem com o motivo do despertar da leitura entre os jovens. Diz ela: “A fase de transição da infância para a vida adulta pede um pouco de magia e aventura. Eu, por exemplo, tenho preferência por esse gênero porque serve como fuga da realidade, ao passo que pode ser, ainda assim, uma grande analogia para os problemas cotidianos e atuais”.
Entende-se por Fantasia qualquer ficção que envolva o imaginário e o sobrenatural, gênero favorito dos jovens leitores e também um dos mais efervescentes do mercado editorial. Três dos cinco primeiros da lista de autores que mais faturaram da revista Forbes, por exemplo, escrevem sobre ele.
Ok. Então os jovens são a camada de leitores que mais lê no Brasil, mas o que eles acham da Literatura Nacional? Muitos, como a maioria dos brasileiros, preferem os importados, traduzidos, com aquele nome difícil na capa. Uma cultura de séculos que é difícil de ser mudada, mas não impossível. Iniciativas como a da editora Novo Século, por exemplo, são mais do que bem vindas: Além de ter mais de 70% de seu catálogo formado por publicações brasileiras, a editora possui o selo Novos Talentos da Literatura Brasileira, que procura dar lugar ao sol, e nas prateleiras, a escritores inéditos. Todos daqui, da terra.
Essa literatura nossa ainda não tem o destaque que merece, mas a evolução nos últimos anos é evidente. Como deixar passar invisíveis os sucessos de A Batalha do Apocalipse, de Leonardo Spohr, Dragões de Éter, de Raphael Draccon, e dos inúmeros livros de André Vianco? Quando poderíamos ver duas paraenses, Roberta Spindler e Oriana Comesanha, ganhar destaque nacional com seu livro Os Contos de Meigan?
O processo árduo da visibilidade que os autores nacionais tanto anseiam já teve seu pontapé, mas ainda há um longo caminho a ser andado. E é preciso contribuição dos próprios escritores, das editoras, das livrarias e, acima de tudo, dos leitores para se chegar a algum lugar. Por fim, que se façam as palavras de Roberta Spindler as de todos “Não vejo diferença entre livros nacionais e estrangeiros. Iremos encontrar obras boas e ruins, não importa a nacionalidade de quem as escreveu”.
Nós conversamos com algumas pessoas, para saber suas opiniões a respeito da literatura nacional e o valor que se dá a ela. Confira.
Edição: Arthur Medeiros, Caio Figueiredo e Jonata Henrique
Texto de Arthur Medeiros