sábado, 15 de setembro de 2012

Praça da República: Palco de Pluralidade.

                                                   Foto: Laís Cardoso 
A urbanização e a modernização das cidades reconfiguraram os espaços públicos, criando ou recriando os ambientes de encontros e negócios da população.
A Praça da República, em Belém, representa muito bem essa nova configuração.
É reconhecida como uma área livre, que tem uma dinâmica própria, bastante diferenciada e que engloba a “pluralidade”.
Além de sua importância histórica e sua beleza exuberante, é espaço de lazer, de comércio, de reunião e de preservação. Por ser um ambiente arborizado, que propicia aquela sombra nos horários em que o sol é mais forte e faz frente à modernização intensa que a cidade sofre, traz um clima nostálgico a quem passa.
E foi caminhando por ela que a administradora, Ana Rosa Dias Ferreira, 49, que mora há mais de 30 anos perto da Praça da República contou um pouco sobre o que pensa da praça e suas atuais condições: “Eu tenho saudades da praça do tempo da minha adolescência, pois havia bandinhas tocando. Hoje, ela continua bonita, só que passa por problemas, as pessoas não colaboram e acabam deteriorando os patrimônios. Não é só papel da gestão pública de mantê-la bem cuidada, é nosso dever também”.
É notória essa necessidade de a população se sentir mais parte dessa história e mais dona desse patrimônio. Segundo a dona de casa Rosalina de Aquino, 73, a população parece não reconhecer que esse patrimônio é de todos: “Falta aos gestores públicos e à população consciência de preservação. Os gestores de promover ações que valorizem a praça e a população criar um compromisso com este espaço e aí preservar, pois cada papelzinho de bombom que é jogado no chão enfeia a praça.”.
Já o historiador Michel Pinho, 37, acredita que além da reponsabilidade do cidadão e da gestão pública, outras instituições tem muita importância nesse processo de valorização e preservação da Praça: “Penso que a solução não esta prioritariamente no poder público propriamente dito, a escola e a imprensa são poderosos instrumentos que podem fomentar o interesse em conhecer a praça e a cidade”. E sugere uma excelente iniciativa que seria fazer, através de agências de turismo, prefeitura ou estado, walktours – que são passeios a pé que contam a história do lugar - e que desta maneira pudessem partilhar as interessantes histórias que cercam o antigo Largo da Pólvora e a construção do Teatro da Paz”.
A Praça da República é um complexo importantíssimo para a cidade e tem um passado, relativamente recente de um pouco mais de cem anos, levando em conta que a Cidade das Mangueiras tem quase quatrocentos anos. Passado esse, bastante interessante e às vezes nem mesmo conhecido.
A praça já fora um terreno descampado. Na sua extremidade já abrigou um caminho para uma pequena ermida de nossa senhora de Nazaré, hoje, Basílica santuário, e somente no final do século XIX é que o espaço ganhou maior visibilidade com o avanço da economia de exportação da borracha.
A Praça já teve vários nomes, tais como Largo da Pólvora, Praça Dom Pedro II, até chegar ao nome que tem hoje, Praça da República. E foi sob as ordens dos Intendentes Arthur Índio do Brasil, Barão de Marajó, Silva Rosado e Antônio Lemos que foram promovidas os principais melhoramentos, como o calçamento das ruas. E já no início do século XX, sofreu algumas mudanças estruturais, dando-lhe os contornos que tem hoje, reforçando o complexo que é.
Um complexo, de fato, pois, a Praça abriga monumentos históricos, como o Teatro da Paz, o Bar do Parque, o Teatro Experimental Waldemar Henrique, o Núcleo de Artes da UFPA e guarda nas calçadas, bancos e coretos uma parte constituinte da cidadania. O historiador Michel Pinho contou uma curiosidade da Praça, que não se vê mais hoje: “Hoje as mangueiras provenientes da Ásia, dominam o cenário, mas seria difícil de imaginar que a praça já foi arborizada por lindos taperebazeiros” finaliza.
Enfim, a Praça é um local de pluralidade. Pluralidade esta que se estende ao público que a utiliza e as formas de comércios que ela possui, e que pode se percebido, mais claramente, aos domingos, quando hippies, punks, evangélicos, dançarinos de break e voluntários de Ong’s de animais domésticos, circulam pelo mesmo espaço, entre outros públicos, que passeiam pela feirinha montada na calçada, onde se vende desde artesanato a comidas típicas da região. Afinal é a Praça da Republica, a praça de todos os públicos.
Texto de Emanuele Corrêa

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