sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Orgulho de ser brasileiro

                                                  Foto: Laís Cardoso 
Brasileiro é um povo rico. Isso é incontestável. Reclamamos de nossos salários, que nunca duram até o fim do mês, mas não percebemos quanto dinheiro temos de sobra. Todos os anos, pagamos mais de 7 bilhões de reais para bancar nossos parlamentares do Congresso Nacional  com seus 15 a 19 salários mensais, ajudas de custo, verbas indenizatórias e de gabinete, auxílio moradia, cotas de gasto com passagens aéreas e telefonia, gastos com aluguel, manutenção de escritórios e locomoção, auxílios diversos e algumas despesinhas extras. Segundo estudo realizado pela ONG Transparência Brasil em 2007, esse é o custo mais alto para a população em comparação aos parlamentos de 11 países: gastamos R$ 11.545,04 por minuto com os 513 deputados e 81 senadores.
Pagamos mais ou menos a bagatela de R$ 34.000,00 mensais para custear cada um dos deputados estaduais e cerca de uns R$ 8.000,00 mensais para sustentar cada um dos vereadores de nosso próprio município. Damo-nos ao luxo de depositar cinco meses de salário anual no bolso do Governo, pagando mais de oitenta tipos de tributos. E tudo isso ainda não nos impede de pagar nosso próprio plano de saúde, escola privada, plano odontológico, lazer, entre outros – já que não podemos contar com os serviços públicos sempre precários. Coisa de gente rica.
Brasileiro é um povo paciente. Esperamos, no mínimo, seis meses por um atendimento médico nos postos de saúde, sem reclamar. Podemos ter alguma doença terminal, mas, brasileiros que somos, sempre damos um jeitinho de adiar a morte até o dia da consulta. Esperamos pacientemente vinte anos pela solução de alguma pendenga judicial, suportamos toda a ladainha processual, burocracias e audiências infrutíferas. Se a paciência é uma virtude, somos dos povos mais virtuosos do mundo.
Brasileiro é um povo perdoador. Somos capazes de desculpar qualquer traquinagem de nossos representantes no Congresso, no Palácio do Planalto, nas Câmaras e nas Prefeituras, a ponto de reelegermos os mesmos calhordas comprovadamente suspeitos na Justiça... Desde que não possua sentença transitada em julgado, ou seja, sobre a qual não caiba recurso; já que, nestes casos, os direitos políticos do calhorda são suspensos.
Vemos a foto do político nos jornais, na televisão... Às vezes, até a cópia das decisões judiciais, dos pareceres do Ministério Público, mas o absolvemos mesmo assim. Basta uma proposta nova, uma propaganda eleitoral bem elaborada, um botox aqui e ali, para conceder um ar de graça, e não resistimos. O Brasil é o país das segundas chances... E das terceiras, das quartas, das infinitas.
Brasileiro é um povo responsável. Responsável pelas pela sujeira, enchentes nas ruas, pela corrupção generalizada, pelas mortes nos trânsitos. Despejamos lixos nos ambientes públicos com o peito estufado; sempre nos gabando do reconhecido e patenteado “jeitinho brasileiro”, de nossa esperteza e malandragem – essa lábia, essa habilidade finória que nos leva ao desrespeito às leis, a não parar no sinal vermelho, a fechar os cruzamentos, a cometer pequenas-grandes espertezas, à corrupção, a se aproveitar do Estado como se fosse uma grande mãe.
Brasileiro é um povo bem informado. Não graças aos jornais, tampouco os impressos, já que aversão à leitura é nossa marca registrada. Porém televisão, blogs, os twitters da vida prestam-nos um serviço informativo indispensável. Entendemos tudo sobre a vida dos outros (o imaginário do povo, louco por alfinetadas e fabricação de dúvidas sobre a vida alheia, não despreza as oportunidades de fazer as devidas piadinhas); opinamos sobre times de futebol, estamos por dentro de todas as fofocas do momento ainda antes de chegar o momento. Somos tão obcecados por informação, que não é à toa que somos reconhecidos mundialmente como o povo que dedica mais tempo ao acesso à internet. Temos tanto conhecimento das coisas que nem estão ao nosso redor, que mal nossos cérebros assimilam os fatos que realmente vão mexer com a nossa vida. Especialmente com nossos bolsos. Afinal, somos um povo "rico".
Brasileiro é um povo sonhador. Se somos mesmo do tamanho de nossos sonhos, o brasileiro pode se considerar parte de um grande povo. Sabe qual é o dito sonho americano? Alcançar igualdade de oportunidades e liberdade para atingir seus objetivos de vida somente com seu esforço e determinação. Mesquinho. O sonho brasileiro é muito mais alto. Queremos sucesso sem absolutamente nenhum esforço ou determinação. Quem sabe, um pequeno cargo político ou de “confiança” mesmo, para fingir trabalhar por quatro anos, mamar nas tetas do Governo e terminar com um pé-de-meia que nos sustente a vida toda? Falando em sustento, o Bolsa Família bem que precisa ser revisto. Sonhar é isso aí.
Em suma, não temos por que não amarmos o nosso país. Deveríamos andar por aí orgulhosos da nossa condição de brasileiros. O mesmo patriotismo que nos domina durante as Copas do Mundo – até perdermos, é claro – deveria permanecer ileso pelo resto dos anos. O Brasil há mesmo de ser o país do Carnaval, das festas, dos feriados.
Temos razões de sobra para comemorações. Afinal, povo como este não existe em lugar nenhum do mundo.
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                                                                                                                      Texto de Tarcízio Macedo

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