sábado, 22 de setembro de 2012

Sebos: variedades, objetos e histórias

                                                  FotoJuliana Theodoro
O mercado de livros em Belém não é muito grande: não há muitas livrarias, e parte das que há encontra-se dentro de shopping centers. No entanto, existe um mercado alternativo de livrarias, que vem preencher uma lacuna nesse comércio: o de sebos, lugares onde é possível encontrar uma variedade de produtos, que vão desde livros a vinis, que têm muita história para contar.
O primeiro sebo da cidade foi o Sebo do Dudu, pertencente a Eduardo Failache, localizado na Travessa Campos Sales. E atualmente, na cidade, encontram-se pelo menos sete sebos em funcionamento. Há o Cultura Usada, O Relicário, Banca do Zé, Alfarrábio, Sebo Cultural, O Arquivo Cultural e o Acervo Literário; entretanto, existem muitos outros espalhados pela cidade e que funcionam como bancas ou exposição de livros ao ar livre.
Embora haja uma ideia de que o sebo é um lugar onde só são encontrados livros velhos e poeirentos, a situação não é realmente essa. É possível, sim, encontrar obras antigas, mas os sebos também vendem diversas obras em estado novo ou seminovo e por preços bem em conta.
Há algumas compensações de se fazer compras em sebos. Pedro Pinheiro, 34 anos, estudante, enxerga uma delas: “eu vejo que no sebo eu posso comprar muita coisa que eu não encontro em uma livraria”. E, de fato, isso é uma das suas características mais marcantes: a possibilidade de achar nesses locais produtos, os mais diversos, como livros de vários gêneros, quadrinhos de vários anos e editoras, vinis antigos, CDs, DVDs, etc. Outra vantagem é a exclusividade e raridade das obras, uma vez que algumas obras de que os sebos dispõem são já edições esgotadas e antigas, dificílimas de serem vistas em livrarias. A exemplo disso, O Relicário detém uma vasta quantidade de livros que datam do início do século XX, títulos, portanto, raríssimos.
Quanto ao público que procura os sebos, trata-se, geralmente, de compradores eventuais, que vão à procura de algo em específico, mas também há os que vão sem um objetivo certo e compram. Segundo Carlos Lima, 44 anos, proprietário e administrador do sebo Cultura Usada, existente há 19 anos, o público consumidor são “inacreditavelmente, os mais jovens; quem compra mais são os mais velhos; mas quem frequenta mais e compra quantidades pequenas de livros, são os mais jovens”. Anderson Sales, 33 anos, proprietário e administrador do sebo O Relicário, que já funciona há 12 anos, diz que “todo o tipo de pessoas: gente que vai fazer vestibular, intelectuais, colecionadores, curiosos”, sendo os títulos mais procurados “os de filosofia, livros sobre a história do Pará e Amazônia, livros antigos de matemática e cálculo, livros de medicina, de arte, história”.
No entanto, esse mercado apresenta algumas limitações. Ele tem pouca visibilidade, de modo que há um grande desconhecimento a respeito dele, dificultando, assim, a manutenção dessa atividade, cujo mercado consumidor é razoável, mas ainda sim pequeno. Os motivos para tal são diversos. Para Anderson, a responsável por isso é “falta de interesse do público” e continua, dizendo: “às vezes, o ritmo de venda não acompanha a necessidade do negócio”; para Carlos, isso é uma questão “cultural, do prático”, no sentido de que é mais fácil se utilizar da internet como um substituto do livro do que tê-lo “inutilmente”.
E, para tentar remediar essa pouca notoriedade que os sebos têm, esses estabelecimentos criaram diferenciais que certamente atraem a atenção. Por exemplo, o Relicário, tem um clube do HQ; o Cultura Usada promove atividades culturais no âmbito literário, por meio de saraus de poesia e reuniões para a discussão de leituras. Mas, fora isso, frequentar um sebo é uma atividade sempre recompensadora e surpreendente, que, decerto, vale a pena.
                                                                                                         Texto de Sérgio Ferreira.

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