Entre
as diversas frases que estampam cartazes em manifestações que ocorrem no Brasil desde
o dia 13 de junho, uma palavra-chave é evidente: corrupção. Na última
quarta-feira, 26, atendendo ao pedido da presidenta Dilma Roussef e pressionado
pelas ruas, o Senado Federal aprovou o projeto de lei que torna a corrupção
ativa e passiva em crime hediondo, tão grave quanto homicídio qualificado e
estupro. Agora, a proposta segue para a Câmera dos Deputados.
A
ação pertence a uma série de medidas do governo para atender às reivindicações
da população, que desde o dia 13 tem ocupado as ruas do País. Entre as pautas
mais urgentes está a reforma política, cuja proposta do governo é realizar um
plebiscito, ainda este ano, para questionar os brasileiros.
Uma
das primeiras vitórias da população nesse sentido foi a chamada Lei da Ficha
Limpa (Lei Complementar nº 135/2010), lançada em abril de 2008 e aprovada pelo
presidente da República Luís Inácio Lula da Silva em 04 de junho de 2010. É uma
iniciativa da Articulação Brasileira contra a Corrupção e a Impunidade
(ABRACCI), do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) e de diversos
outros setores da sociedade civil brasileira que impede políticos condenados por
órgãos colegiados a participarem de eleições, além de alterar a Lei
Complementar nº 64, de maio de 1990, que visa “proteger a probidade
administrativa e a moralidade no exercício do mandato”, conforme o documento.
Atualmente,
a lei tem sido amplamente debatida por políticos e por organizações da
sociedade civil. De um lado estão os que querem que candidatos com contas de
campanha reprovadas pela Justiça Eleitoral possam concorrer ao pleito, apesar
de comprovadas irregularidades como a prática de caixa dois, por exemplo. Do
outro lado estão os que querem a "Reforma Política Já", campanha
lançada pelos autores da Lei da Ficha Limpa no dia 24, que lança restrições e
normas para o financiamento de campanhas eleitorais e a PEC da Ficha Limpa no
Serviço Público, que estende a todos os servidores públicos as mesmas regras da
Lei Complementar nº 135/2010.
Outro
projeto de lei complementar removeria o poder dos Tribunais de Contas de tornar
ficha suja um candidato que, na avaliação do órgão técnico, não soube
administrar o dinheiro público ou as próprias contas de campanha. De acordo com
o Ministério Público (MP), cabe aos Tribunais de Conta julgar as contas da
gestão pública e não existe motivo para influência do legislativo.
Segundo
Sandra Cureau, vice-procuradora geral eleitoral, “são duas situações em
que estão tentando consagrar um entendimento que vai beneficiar os candidatos
ficha-suja e esvaziar a lei da ficha limpa. O mais grave é que são pessoas
totalmente inaptas a lidar com o dinheiro público, que a partir disso poderão
ser eleitas livremente. É tudo o que se tentou evitar. Essas pessoas não têm
moralidade ou probidade para lidar com o dinheiro público”.
O
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) liberou, em junho de 2012, uma lista com nomes
e dados de políticos e administradores públicos que tiveram suas contas
consideradas "sujas" pelo Tribunal de Contas da União (TCU). As
informações se referem ao período de trânsito em julgado, ou seja, que não
admite mais recurso pelo TCU, de 07 de outubro de 2004 ao mesmo período de
2012.
O
índice superou o divulgado em 2010 pelo TCU, referente aos gastos dos últimos
oito anos (2002-2010), no qual 225 autoridades paraenses respondiam por 421
processos. Ao todo, são 7045 gestores públicos com 10544 condenações das 27
unidades federativas (26 estados e um Distrito Federal), entre eles 299
paraenses com 502 ocorrências, que ficaram impedidos, devido à rejeição de contas,
de participar das eleições de 2012; um aumento percentual de 25% e 17%,
respectivamente, equivalente a 74 candidatos e 81 processos julgados
irregulares a mais em relação ao levantamento feito há dois anos. Caso seja
aprovada a proposta dos parlamentares, todos estariam livres para disputar
novos cargos eletivos.
No
Pará, o campeão de condenações é Gervásio Bandeira Ferreira (PMDB), ex-prefeito
de Breves, com 15 processos, três a mais do último levantamento feito em 2010,
todos referentes à época de sua gestão. Em segundo lugar, aparece o ex-prefeito
de Curionópolis, Osmar Ribeiro da Silva, com 11. O terceiro lugar do pódio é
ocupado pelo ex-prefeito de Eldorado dos Carajás, Jair da Campo (PMDB), com 8.
Entre
os inadimplentes, está o atual reitor da UFPA quando era diretor executivo da
Fundação de Amparo e Desenvolvimento de Pesquisa (Fadesp), Carlos Edilson de
Almeida Maneschy, responsabilizado juntamente com o reitor da época, Cristovam
Wanderley Picanço Diniz, e o ex-Pró-Reitor Luciano Sérgio Brito Nicolau da
Costa, em um processo referente a um contrato feito pela instituição com a empresa
Proline Nordeste Engenharia e Informática, em 1999.
Segundo
parecer do MP, houve o pagamento antecipado e indevido, não previsto em edital
ou contrato de 20% do valor firmado à empresa contratada, o que aumentou os
gastos; a contratação de serviços de avaliação, com transferência de US$
40,000.00 à Associação das Universidades Europeias (CRE), sem prévia licitação
e utilização de recursos de um convênio para cobrir gastos gerados por outros
convênios.
Outro
reitor da Universidade, ex-secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e
Inovação e atual secretário especial de Estado de Promoção
Social, Alex Bolonha Fiúza de Melo, também figura entre os "ficha
sujas" divulgados pelo TCE. O ex-reitor teve seu nome inscrito na lista
por irregularidades na prestação de contas de 2007, deixando de justificar
alguns itens questionados pela Controladoria-Geral da União (CGU), em contratos
junto à Fadesp, antecipando o pagamento, o que é proibido em gestão pública, e
por contratar, sem licitação, serviços que não se enquadram nas atividades de
desenvolvimento institucional da Fadesp.
Para
acessar a última lista com os candidatos barrados pelo TCU:
http://www.fichalimpa.org.br/assets/arquivos/contas_barradas/ResponsaveisContasJulgadasIrregularesEleicoes2012_UF.pdf
http://www.fichalimpa.org.br/assets/arquivos/contas_barradas/ResponsaveisContasJulgadasIrregularesEleicoes2012_UF.pdf
Texto de Tarcízio
Macedo
Revisão de Laís
Cardoso
Edição de Juliana
Theodoro
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