Foto: Marco Facre |
Nesta semana não teve como não pensar
na Copa. Na segunda-feira, 9, o goleiro Júlio Cesar foi escalado como membro
oficial da seleção brasileira para 2014 e na terça-feira, 10, o Brasil ganhou
Portugal por 3x1 em um amistoso internacional em Boston (EUA). Hoje, 16,
marcam-se exatamente 269 dias para o começo da Copa do Mundo FIFA 2014, que
será sediada em nosso país.
Semana passada, alguns
integrantes do Os Apocalípticos foram
à Manaus novamente para participar do EXPOCOM - Exposição de Pesquisa
Experimental em Comunicação (na Intercom), que premia os melhores trabalhos da
área no Brasil e no qual o nosso blog ganhou o prêmio regional em maio.
A viagem também foi uma
oportunidade para presenciarmos e sentir na pele a situação atual da capital do
Amazonas, que será uma das sedes da Copa 2014.
Bom, aqui exponho minhas constatações:
Primeiro, é preciso informar
que a SECOPA – Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo da FIFA – estabelece
28 programas de análise da matriz. Como são muitos, me atentarei a apenas
cinco.
1.
Arena
A FIFA solicita que a estrutura
esportiva dos jogos contemple o padrão da Federação em termos de infra-estrutura,
segurança do espaço e dos envolvidos no evento, tecnologia, controle e
monitoramento, sustentabilidade, acessibilidade, entre outros. Os Apocalípticos tentou marcar uma
visitação ao local para ver como estavam as coisas, porém nenhum dos contatos
encontrados (como a Secretaria do Esporte) soube indicar o responsável para tal
procedimento – o mesmo ocorreu com várias outras secretarias quando procuramos
saber informações dos projetos.
O Portal 2014, iniciativa do Sinaenco
não ligada àFIFA, aponta a ficha técnica das cidades sedes da Copa com
indicações em cartões verde e vermelho de acordo com o andamento das obras. Segundo
o site, a Arena Amazônia possui cartão verde, ou seja, está com uma boa
situação,com montagem da cobertura iniciada em julho e com conclusão prevista
para outubro.
Projeção da arena Amazônia/Foto: Divulgação FIFA |
Esse projeto foi um dos principais motivos de revolta dos paraenses, que não sediarão a Copa, pois o estádio de Belém, Estádio Estadual Jornalista Edgar Augusto Proença (conhecido por Estádio Olímpico do Pará depois da reforma, ou popularmente, Mangueirão), apresentou necessidade de apenas pequenos ajustes em seu projeto. A arena já havia passado por uma reforma em 2002, o que, segundo os responsáveis,a deixou de acordo com as exigências da FIFA.
De acordo com informações da
SEEL – Secretaria de Esporte e Lazer do Pará -, para a Copa também seriam
criados espaços voltados para a mídia nacional e internacional no Mangueirão,
com capacidade para 1.600 jornalistas, e uma área exclusiva para membros da FIFA.
Haveria ainda um centro comercial no qual seriam vendidos produtos licenciados
da Copa do Mundo de 2014. Além disso, boa parte da estrutura seria utilizada
apenas após o Mundial para a formação de atletas. Durante a competição, apenas
os quatros campos oficiais construídos pela Federação Paraense de Futebol
seriam aproveitáveis. Dois deles teriam arquibancadas e vestiários completos, a
serem utilizados como centro de treinamento para as seleções.
Muitos analistas consideram o
Mangueirão como um dos melhores estádios do Brasil, e muito se acreditava na
sua escolha para a realização de jogos da Copa do Mundo. O investimento
necessário para 2014 foi calculado em cerca de 95 milhões de dólares (em torno
de3 vezes mais barato que a Arena Amazônia).
1.
Entorno
da arena
A FIFA exige acessibilidade ao
estádio, fanparks, atrações oficiais e instalações aos envolvidos no evento,
além de garantir que o entorno possua espaço adequado para a exposição
publicitária dos patrocinadores credenciados pela FIFA.
Arena está bem localizada na
cidade, bem no centro, próxima de hotéis, hospitais, bancos, shopping centers,
supermercados e restaurantes, a uma distância de cerca de 6 km do centro
histórico da cidade e da orla do Rio Negro. Fica também ao lado do Sambódromo
de Manaus, o maior Centro de Convenções do gênero no Brasil, com capacidade
para mais de 100 mil pessoas e bem famoso na região, como podemos perceber pela
quantidade de eventos realizados no local e divulgados em outdoors, por
exemplo.
2.
Mobilidade
urbana
A FIFA cobra infraestrutura
adequada, como meios de transporte de alta qualidade a serem disponibilizados
aos envolvidos no evento.
Esse setor recebe cartão
vermelho no Portal 2014 e eu, pessoalmente, o considero justo. Percebemos que
Manaus possui pouca fiscalização no trânsito ao se comparar com outras capitais
brasileiras, a julgar, por exemplo, pela falta de costume da maioria dos habitantes
em usar cinto de segurança, inclusive de taxistas de cooperativas
bem-reconhecidas. Além disso, é necessário haver mais táxis. O evento em que participamos,
a Intercom Nacional, recebeu cerca de duas mil pessoas (22vezes menor em
relação à lotação da Arena Amazônia).No último dia do Congresso, 7 de setembro,
feriado nacional, os participantes tiveram muita dificuldade em encontrar táxi
devido ao horário, à acessibilidade de comunicação das cooperativas e ao fato
de ser feriado.
Por outro lado, táxi é, em
muitos casos, a melhor opção de transporte na cidade, já que tem uma bandeirada
com um preço relativamente bom (R$3,50) se comparada a de Belém (R$4,78) e Rio
de Janeiro (R$4,70).
É uma situação preocupante, já
que muitos turistas (em especial, os europeus) estão acostumados a utilizar
principalmente o sistema público de transporte. Com uma tarifa de R$ 2,75, os
ônibus manauaras têm a vantagem de utilizarem como identificação principal os
números da linha e não os nomes da mesma, o que facilita aos falantesde diferentes
nacionalidades. Entretanto, há uma frota muito pequena se considerarmos a
quantidade de pessoas que necessitarão. Em feriados é preciso muita paciência
para conseguir ônibus para algumas localidades.
Além disso, nem todos os ônibus
de Manaus têm adaptação para deficientes. Presenciamos um caso de um senhor que
precisou ser carregado para subir à escada de acesso e ficar se segurando
durante a viagem para que não deslizasse pelo ônibus.
Outra questão em relação aos
ônibus é a dificuldade que o turista tem em se localizar. É necessário um
treinamento aos funcionários (a exemplo os cobradores) para informar melhor aos
usuários de sua linha, ao menos em português, as rotas. O que facilitaria muito
seria a implantação de pequenos mapas indicando as paradas que o ônibus faz ao
longo de sua trajetória, assim como as que têm nos metrôs de São Paulo.
Os projetos de mobilidade
urbana para 2014 foram o Monotrilho Norte/Centro e o BRT Eixo Leste/Centro,
ambos cancelados devido a irregularidades que atrasaram demais as obras. Por
isso, a menos de um ano para a Copa, o Governo lançou um novo plano de
mobilidade urbana para a capital amazonense, com medidas como a construção de
complexos viários interligando as Zonas Leste a Oeste da capital; um novo
complexo para facilitar o fluxo na saída da ponte Rio Negro e outro entre os
bairros da Chapada e Parque das Laranjeiras, Zona Centro-Sul. Estão contidos
ainda nessas propostas os corredores viários da Avenida do Futuro, da Colônia
Antônio Aleixo e dos Franceses, além da interligação da BR-174 com a Avenida do
Turismo. Mais detalhes aqui.
3.
Portos,
aeroportos e mercadorias
Dentre esses três pontos, só
tivemos a oportunidade de analisar o aeroporto de Manaus. O Aeroporto
Brigadeiro Eduardo Gomes consta como cartão verde no Portal 2014.
Um investimento de R$ 327,4
milhões é o necessário para reforma e ampliação do terminal de passageiros e
adequação do sistema viário, com previsão de entrega para dezembro de 2013.
Segundo a Infraero, obras já estão 55% prontas e seguem o cronograma.
Como turistas, consideramos o
número de serviços do aeroporto muito baixo, com poucas opções para lanchar,
por exemplo, e não havendo nenhum restaurante para se fazer uma refeição mais
elaborada como um almoço, diferente do Aeroporto Internacional de Belém - Júlio
Cezar Ribeiro, conhecido também como Aeroporto Val de Cans.
O aeroporto de Manaus apresenta
entrada e saída de viajantes numa mesma abertura: um “túnel” que leva ao espaço
do aeroporto. Como será que ficará na Copa? Provavelmente causará um grande
congestionamento de pessoas, não?
O espaço também necessita de
maiores sinalizações em inglês, com direcionamentos para os locais e serviços
do aeroporto, para melhor atender os viajantes de todo o mundo.
Além disso, o atendimento no
aeroporto de Manaus não foi um dos melhores. Felizmente, contudo, a cidade está
incluída no programa da Infraero no qual 320 profissionais de aeroportos
regionais de 119 cidades vão fazer um curso até o final do ano para receber
mais capacitação na operação desses aeródromos, na legislação que regula o
setor aéreo e nas práticas de gestão aeroportuária.
Quanto à reforma, o orçamento
feito é de R$ 327,4 milhões, cerca de 4 vezes mais caro que a feita no Val de
Cans, em 2001 (com custo aproximado de R$78 milhões).
Cultura
Por último, gostaria de
falar sobre esse que considero o ponto de maior destaque positivo de Manaus.
Bois-bumbás do Festival de Parintis. esquerda, Garantido e, à direita, Caprichoso/Foto: Cultura do Amazonas |
Está sendo
criado um projeto de semana cultural durante os intervalos dos jogos da Copa para
mostrar aos visitantes a riqueza cultural da região.Riqueza essa que é
incontestável, considerando que a Amazônia é o assunto que mais interessa aos
turistas em relação à Copa do Mundo no Brasil, seguida do Pantanal. Riqueza
também que Manaus faz questão, com razão, de apresentar aos turistas.
Há um forte turismo cultural na cidade, que envolve o orgulho que os manauaras têm com seus bois-bumbás e com a etnia indígena. Esse certamente será o ponto mais alto no saldo final da relação custo x benefício quando se fizer o balanceamento dessa sede da Copa. Mas os passeios da ManausTur são relativamente caros aos bolsos brasileiros, com City Tour com preços de R$250, sendo que em Porto Alegre, por exemplo, é cerca de 10x mais barato.
Além disso, os governos do
Estado e Município comprometem-se com a FIFA a reagendar eventos para os
períodos que antecedem e procedem a Copa do Mundo promovendo sua cultura por
mais tempo aos visitantes do evento.12 de junho a 13 de julho,período quando o
maior evento do Amazonas, Festival de Parintins, é tradicionalmente realizado
(último final de semana de junho para ser mais exato). Até agora nenhuma informação
oficial foi dadaa respeito de um possível reagendamento do festival. Será que o
evento se encaixa como uma exceção a esse compromisso?
Conclusão – Manaus é uma cidade amazônica que representa bem
a região nos termos culturais e até mesmo ambientais, com a presença de uma
linda orla na Praia da Ponta Negra e com ruas bem limpas. Porém, é uma cidade
com pouca movimentação de pessoas. Diferente de outras metrópoles, como Belém,
apresenta vida noturna pouco significativa. É como se fosse um ambiente mais
voltado à vida do dia-a-dia, ao trabalho, à produção e muito menos dedicado ao
lazer, ao turismo. Por isso e por todos os outros fatores relatados neste
texto, deixo a seguinte indagação: Manaus está preparada para sediar a Copa?
Confira a seguir o vídeo-chamada da copa em Manaus:
Confira a seguir o vídeo-chamada da copa em Manaus:
Texto de Alice Martins Morais
Revisão de Lais Cardoso
Edição de Emanuele Corrêa
Fontes de algumas informações:
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