segunda-feira, 20 de maio de 2013

Competição interregional mostra a Belém que esporte não é só futebol


“Os grandes eventos estão de volta”. Foi com este slogan que o Estádio Olímpico de Belém, o Mangueirão, recebeu o XXXVII Troféu Caixa Norte Nordeste de Atletismo neste final de semana. O evento reuniu 170 atletas de 16 estados do Norte e do Nordeste, sendo 22 paraenses.

O Pará teve um bom desempenho e ficou em quarto lugar na classificação geral, duas posições acima em relação à última edição, realizada em 2012 em Recife. Pernambuco, mais uma vez, ficou em 1º, seguido por Rio Grande do Norte e Ceará.

Os atletas enfrentaram a típica chuva belenense na tarde do primeiro dia da competição, sexta-feira, 17. Mas no último dia, domingo, 19, Belém amanheceu com tempo bom e ensolarado e as atividades puderam ser realizadas tranquilamente. O clima no início da manhã estava bem agradável: música ao fundo para animar o público e os atletas reunidos em grupos, todos descansando e se preparando da forma como achavam melhor, como a atleta paraense Mara Rogéria, que estava lendo e ouvindo músicas no celular. Ela ia disputar a prova dos 800m, mas contou estar frustrada porque ainda não tinha conseguido nenhuma medalha. “Na verdade, cheguei ao Norte Nordeste estourada porque não sabia que ia competir e eu tava treinando normal. Pode ver que fui ruim em todas as provas que eu fiz, porque eu ‘tô’ estourada. Vim de dois meses de competição e ainda não descansei desde a Corrida do Trabalhador”. Apesar disso, acabou conseguindo a medalha de prata.


Outro paraense, Carlos Wagner (foto ao lado), preparava-se desde cedo para a última prova da modalidade decatlo. Ele conquistou a medalha de ouro em salto em altura na última sexta-feira e no domingo, a medalha de bronze no declato. Carlos contou para Os Apocalípticos as dificuldades que os atletas paraenses sofrem: “Não estou treinando, não temos apoio do Governo do Estado do Pará para treinar, para utilizar o Mangueirão. O Mangueirão foi reconstruído em 2002. A prova que eu perdi ontem, a gente não pode treinar aqui. O Mangueirão é praticamente de enfeite porque o gramado é só pro futebol. Então, eu não consegui ficar entre os 6 por falta de incentivo do Governo”.

Relatou, ainda, que, por essa dificuldade de espaço, os atletas têm que treinar nas ruas e quando chegam no estádio em que irão competir, sofrem com a necessidade de adaptação. Mara Rogéria complementou: “Eu acho que as empresas no Pará deveriam apoiar mais o esporte. O Pará tem atletas bons, porém eles não investem. Se não fosse o Bolsa Atleta, os atletas não teriam apoio”.

E o apoio do Governo? Apesar de o evento ser produzido pela SEEL (Secretaria de Estado de Esporte e Lazer do Pará), Itamar Silva do Carmo, primeiro colocado na prova dos 800m rasos, conta que recebe pouco incentivo do Governo: “Tenho Bolsa Atleta, do Governo, mas até então é uma coisa que eu não tenho como contar 100% porque, por exemplo, nós estamos no mês 05 e agora que recebemos a (bolsa) de janeiro. Então fica complicado para o atleta treinar sem dinheiro. Como eu moro no interior do estado, na cidade de Breu Branco, o município me ajuda e eu também participo de corrida de rua, que dá um dinheiro extra; a minha esposa é professora e é como dá para auxiliar nas despesas dentro de casa e nas minhas viagens.”

Esse obstáculo, porém, não se encontra apenas em nosso estado. A pernambucana Alessandra Santos, que venceu a prova do revezamento 4x400m, contou que a maior dificuldade dela e de suas colegas é a falta de patrocínio: “A gente perde muitos atletas para outros estados por conta disso”.

Apesar de todos os desafios da profissão, os atletas têm uma grande paixão pelo esporte e contaram suas histórias. Seja vindo de uma competição da “rua de casa”, como Mara, ou sendo descoberta na escola por um professor, como Alessandra, uma coisa todos compartilham: a mudança de vida proporcionada pelo esporte. Carlos Wagner disse: “Hoje, sou professor de Educação Física formado pela ESMAC como resultado do Atletismo. É esse cunho social que o esporte tem na vida de tantos outros jovens no Brasil. Ela (Mara), como outros colegas nossos, com os resultados que eles têm, ‘tão’ tentando buscar uma Universidade para fazer Educação Física, Direito... Enfim, qualquer área. E eu agradeço ao esporte porque hoje sou professor de Educação Física graças ao resultado que tive durante esses anos praticando Atletismo.”

O XXXVII Troféu Caixa Norte Nordeste de Atletismo terminou em festa. Ao final, não havia mais distinção entre os estados, as equipes se misturaram em uma celebração bonita de dança de comemoração, com direito até a Harlem Shake. Foi realmente um grande evento, que proporcionou à população a percepção de que esporte não é só futebol e que o Pará também está recheado de talentos no atletismo.

Reportagem e fotos de Alice Martins Morais

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