sábado, 15 de dezembro de 2012

Cultura indígena: muito diferente de 1500


Foto: Felipe Matheus.

            O Grupo de Estudos e Pesquisas em Cultura do Corpo, Educação, Arte e Lazer (LACOR), da Faculdade de Educação Física, em parceria com a Associação de Estudantes Indígenas da UFPA (APYEUFPA) realizaram nesta sexta feira, 14, a terceira edição do Ciclo de Oficinas sobre Práticas Corporais Indígenas, com o tema “Jogos Indígenas”. O evento promovido pela Universidade Federal do Pará foi realizado no Ginásio de Esportes da UFPA e contou com a participação de alunos indígenas de várias etnias, que a partir de suas experiências vinculadas aos jogos e brincadeiras, mostraram a importância da valorização da cultura indígena e da troca de conhecimentos.
              “Um dos objetivos centrais é tanto conhecer quanto valorizar a cultura indígena a partir das práticas corporais que são realizadas tradicionalmente em cada etnia, tendo como fio condutor três grandes categorias: a história, o sentido e o significado dessas práticas corporais dentro de cada etnia compreendendo esse processo como algo tradicional, como algo histórico que requer essa importância e valorização da tradição indígena e da cultura indígena”. Afirma a professora, Conceição Santos, coordenadora do projeto.
            Os participantes aprenderam a dançar, a jogar e a confeccionar petecas, dentre outras atividades ministradas durante as oficinas. Segundo o presidente da Associação de Estudantes Indígenas da UFPA, Edmar Fernandes “é importante nós estarmos trazendo de nossas comunidades, de nossas aldeias esse novo conhecimento para a universidade. Essa troca é extremamente importante porque nós podemos divulgar e falar para essas pessoas, para esses alunos de diversos cursos, como é que a gente vive em nossas aldeias”.
              A importância do evento vai além da simples troca de conhecimentos, ao passo que os participantes aprendiam e se divertiam com os jogos e brincadeiras. Era possível, também, ouvir histórias de vivências dessas etnias através da troca de diálogos. Um dos objetivos mais fortes era a tentativa de desmistificar a visão que a sociedade tem do que é ser um índio. “Através dessa troca de diálogos a gente consegue sensibilizar as pessoas para a causa indígena e elas também conseguem divulgar os nossos povos, a nossa cultura a nossa tradição, desmistificando essa visão etnocêntrica e desatualizada da sociedade sobre o que são os povos indígenas hoje. Não precisamos estar trajados, caracterizados, nus ou pintados para sermos indígenas, por que os povos indígenas hoje estão em um momento diferente do que estavam em 1500, nós nos adaptamos assim como a sociedade não indígena” diz Edmar que é da comunidade Caingangue.
              A Associação dos Estudantes Indígenas da UFPA completou um ano no dia 5 de dezembro, nesse período já obteve diversos avanços e conquistas. No início do ano foi realizada a primeira semana do calouro indígena. Foram feitas, também, caravanas para a divulgação do vestibular indígena nas aldeias, onde mais de sete aldeias foram visitadas, além de palestras, participações e apoio a diversos eventos na universidade e em outras instituições, “são ações de cunho político que tem como objetivo a promoção de nossos direitos enquanto indígenas estudantes e também os direitos de nossas comunidades, hoje nós somos mais de 25 indígenas na UFPA de Belém” frisa o presidente da Associação.
             O ciclo de oficinas e suas ações têm fortalecido tanto as atividades acadêmicas dos alunos indígenas integrantes da APYEUFPA, quanto suas atividades em comunidade: “É importante ressaltar a importância dessas atividades para nossas comunidades, porque antes de sermos alunos, nós somos primeiro indígenas. E é por isso que nós somos indígenas estudantes, e não estudantes indígenas. Nós não estamos aqui por iniciativas individuais, nós estamos aqui a partir de uma vontade de uma comunidade que nos indicou para estar aqui. Se eu escolho um curso de medicina é por que a minha comunidade esta precisando de um médico, se eu escolho um curso de enfermagem é por que estão precisando de um enfermeiro na aldeia”, ressalta Edmar.
           Além disso, Edmar explica que eles são cobrados por suas comunidades sobre o que fazem dentro da universidade, se tem vergonha de mostrar a cultura ou de andar pintados, por exemplo, “e nós podemos responder que não, pois na universidade nós damos oficinas sobre a pintura indígenas, falamos sobre as práticas corporais, falamos sobre os jogos, fazemos brincadeiras. Então tudo isso é importante pra nós e é importante para eles, por que nós aqui representamos povos, nós somos em vários povos” assegura Edmar, comentando sobre as duas primeiras edições do projeto que tiveram as temáticas ligadas à pintura e as práticas corporais indígenas.
           Jogos, danças e brincadeiras são exercícios comuns em todas as comunidades, sejam elas indígenas ou não, que podem ir muito além do corpo e da diversão, transfigurando-se no reconhecimento de culturas tão importantes como a cultura indígena, que está quase esquecida ou erroneamente mitificada.

                                                                                            Texto: Beatriz Santos
                                                                                            Revisão: Laís Cardoso
                                                                                            Edição: Emanuele Corrêa

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